Trab Silvia

Fermoso Tejo meu, quão diferente
Te vejo e vi, me vês agora e viste:
Turvo te vejo a ti, tu a mim triste,
Claro te vi eu já, tu a mim contente.

A ti foi-te trocando a grossa enchente
A quem teu largo campo não resiste:
A mim trocou-me a vista em que consiste
O meu viver contente ou descontente.

Já que somos no mal participantes,
Sejamo-lo no bem. Oh! quem me dera
Que fôramos em tudo semelhantes!

Mas lá virá a fresca primavera:
Tu tornarás a ser quem eras de antes,
Eu não sei se serei quem de antes era.

Francisco Rodrigues Lobo

ANÁLISE A análise desse poema visa evidenciar as características barrocas e o estilo de época do texto. O poema tem a forma fixa de um soneto, composto por quatorze versos decassílabos, dois quartetos e dois tercetos. Nos quartetos as rimas são intercaladas; pobres nos versos 1-4, 6-7, e ricas nos versos 2-3, 5-8. Nos tercetos o esquema de rima é CDC//DCD.O poema é um pretenso diálogo entre o eu lírico e o rio, portanto sugere uma imagem dialógica no texto. No primeiro quarteto, o sujeito lírico dirige-se ao Tejo, estabelecendo um paralelo entre a situação desse rio e a sua própria. No passado, o sujeito apresentava-se alegre, e o rio Claro; no presente, ambos se modificaram: o rio turvou-se e o sujeito entristeceu. No segundo quarteto, o eu lírico relata a razão da transformação que ambos sofreram. O rio sofreu uma enchente, que modificou o seu aspecto e as suas águas, (v.5-6). Quanto ao sujeito lírico, alguém que se foi (v. 7-8). No primeiro terceto, o eu lírico relata que, como ambos estão passando por um momento ruim, através do uso da figura de pensamento, Invocação, diz que também poderiam estar, juntos, em coisas boas. O sujeito lírico prezaria ser semelhante ao rio, em tudo. Essa estrofe, contém o momento mais dramático do poema, o que pode ser presenciado no uso das exclamações, pois já prenunciam o que o sujeito lírico constatará no último terceto: que, enquanto no futuro (“ a fresca Primavera”, v.12) o rio voltará a ser