Tiago Marques Aipobureu
Florestan Fernandes
O conceito de marginalidade
O marginal é um homem que se situa na divisa de duas raças, na margem de duas culturas, sem pertencer a nenhuma delas1. É o “indivíduo que por meio de migração, educação, casamento ou outras influências deixa um grupo social ou cultura, sem realizar um ajustamento satisfatório a outro, encontrando-se à margem de ambos e não estando integrado em nenhum”2.
Diante de cada situação, pois, o homem marginal defronta-se com um problema: deve escolher entre padrões incompatíveis uma solução conveniente. Por causa da escolha, as situações que deve enfrentar são situações problemáticas. E em conseqüência sua conduta revela sérias alternativas, ora aceitando, ora repelindo um determinado padrão de comportamento ou um valor qualquer. O próprio indivíduo avalia-se sob dois pontos de vista diferentes e sofre as conseqüências do embate da lealdade que devota ou julga que deve devotar relativamente a cada grupo em presença. Emoções e sentimentos se combatem, conhecimentos e valores adquiridos anteriormente entram em conflito com novos sentimentos ou valores.
É, pois, uma crise psíquica, que ocorre nas esferas da personalidade, na
“consciência individual”. Antes, mesmo, de o conceito ser apresentado sob a forma sociológica atual por Park, um crítico literário, Charles Saroléa3, usou, para designar “os conflitos do indivíduo consigo mesmo, determina-
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Trabalho escrito em
1945 para o Seminário sobre os Índios do Brasil do dr. Herbert Baldus
(Escola de Sociologia e
Política) e por ele publicado na Revista do Arquivo Municipal (São
Paulo, 1946, vol. CVII).
O apêndice é constituído pelo texto de um artigo publicado sob o mesmo título em O Estado de S. Paulo (7/5/
1949). Tiago Marques
Aipobureu faleceu recentemente, em 1958.
Os dois textos, juntos, foram publicados em
Mudanças sociais no
Brasil: aspectos do desenvolvimento da sociedade brasileira (dir.