Texto
Ronize Aline Nunca foi de sair muito. Aliás, quase nada. A casa é seu castelo; a cidade, seu reino. Os amigos brincam instigando-o a pôr os pés para além da soleira da porta: - Luís, desse jeito as pessoas vão até esquecer que você existe. - Podem até me esquecer, respondia zombeteiro. Só não podem esquecer os meus personagens.
Escrever livros é uma coisa. Divulgá-los, outra completamente diferente. Vez por outra era convencido pelo seu agente a comparecer em alguma dessas feiras literárias para mostrar a cara, conversar com o público, sabe como é. Por fim cedia aos argumentos e tinha então início uma angústia que só o abandonaria quando chegasse ao tal evento. Era sempre assim, ninguém mais dava importância aos seus ataques. Os cinco dias que antecediam o encontro eram um suplício só, difícil ficar perto de Luís. Reclamava de tudo, nada estava bom, ameaçava não comparecer no dia e hora marcados. Mas era só botar os pés no auditório, sala, tenda, o que quer que fosse, e olhar para a expressão ansiosa dos presentes que todo o desconforto desaparecia. E nem mesmo a certeza de que aquele mal-estar era passageiro evitava que ele se repetisse da próxima vez.
Dessa vez seria um encontro literário em uma pequena cidade histórica. Algo intimista, o que poderia tornar as coisas mais fáceis ou mais difíceis. Participaria de uma mesa-redonda logo no primeiro dia, o que se por um lado anteciparia o fim de sua angústia por outro dava-lhe a responsabilidade de abrir a festa. Assim que tomou seu lugar no palco teve a visão de uma senhora sentada na primeira fila que o tranquilizou rapidamente. Deveria ter um pouco mais de cinquenta anos, os cabelos grisalhos começando a aparecer sob a tintura vermelho-acobreada e as bochechas rosadas mais pelo aspecto saudável do que pelo blush utilizado. Uma senhora sorridente, calma e de gestos polidos; impossível imaginá-la praticando qualquer ato mais rude. Pronto! A senhora da primeira fila