texto sobre o nordeste

6623 palavras 27 páginas
O NORDESTE EM “A TRISTE PARTIDA”
Toda a produção de Luiz Gonzaga se baseia numa escolha de um espaço narrativo e poético primordial, que permanece inalterado em toda a sua obra: uma região do Brasil assolada por uma série de hostilidades naturais e de desigualdades sociais, políticas e econômicas, e que encontra na religiosidade um reduto de fé e de esperança na possibilidade de transformar a história.
Quando temos acesso às músicas de Luiz a primeira coisa que nos chama atenção é a adoção da “linguagem do Nordeste” como a língua por meio da qual ele fala ao Brasil e ao mundo inteiro: Luiz não toma para si um português estrangeiro, para poder ser aceito e bem entendido, ao invés, submete seu interlocutor à adoção de uma língua muitas vezes estereotipada e desvalorizada por representar a decadência e o subdesenvolvimento do povo que a produz e sustenta. Diz-nos Pimentel:
Oiei? Quá? Vortá? Prantação? Muita gente estranha, mas esses versos foram escritos e publicados assim mesmo, intencionalmente. Reproduzem a linguagem popular do homem da roça, mostram a diversidade lingüística da região (PIMENTEL, 2007: 22)
Isso significa que, sendo consciente, Luiz Gonzaga lança mão de variáveis populares tendo em mente o juízo social do prestígio lingüístico e da estigmatização. Quando isso ocorre, segundo Tarallo (2004: 50-54), o falante opta por usar a variação por ele mais valorizada, que - em última análise - refere-se à valorização do lugar social dessa valorização.
Sob essa ótica, o uso das variantes típicas dos falares nordestinos não é somente consciente, mas intencional. Ao valorizar a linguagem nordestina, Luiz procura valorizar o “ser nordestino” em sua totalidade. Isso porque, conforme diz-nos Bakhtin, o signo linguístico, as palavras - e os seus significantes - possuem um valor de relação social, uma vez que elas interagem com o contexto em que estão inseridas, ou seja, há um entonação pragmática e ideológica no uso das palavras (SANTOS, 2009).
Esse “ser

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