Texto narrativo
Ainda me lembro do dia em que eu o conheci. Era um dia lindo, ensolarado, e ele estava na biblioteca, sozinho, ao lado de uma pilha de livros extremamente grossos e pesados. Mantinha um olhar fixo e concentrado, apesar de ostentar um semblante cansado, de quem não dormia direito há muito tempo. Apesar de trabalhar desde que passei a cursar pedagogia xerocando livros, lembro-me de ter desperdiçado diversas folhas e repetir cópias desnecessárias. Meu Deus! Eu não conseguia me concentrar. Tentei controlar meus instintos, mas olhar para aquele garoto era inevitável. Quando passei por ele, tentei observar melhor, discretamente, mas sempre fui muito atrapalhada, tanto que tropecei e caí sobre uma pilha de livros. Fiz um barulho enorme ao estatelar-me no chão. Meu braço doía muito, estava inchando e sangrava lentamente. Tenho horror a sangue. Desmaiei.
Quando acordei, ele estava ao meu lado na área hospitalar, segurando meu braço e colocando a primeira assinatura no gesso que imobilizava meus movimentos. Augusto, este era seu nome. Ele olhou e sorriu pra mim, e eu senti minhas bochechas corarem. Talvez porque nunca tenha sido extremamente bonita, apesar de ostentar uma pele viçosa e morena. Esta mesma pele, serviu de inspiração para me apelidarem desde que eu era pequena de Moreninha.
Augusto me chamou para dar uma volta. Depois de uma semana, ele me convidou pra jantar. Após alguns meses, fui pedida em namoro. Quatro anos depois, dividíamos o mesmo apartamento, o mesmo quarto, a mesma vida. Ele havia se tornado um cardiologista e eu trabalhava ensinando o bê-á-bá para crianças do primário.
Sentada na beirada da cama, limpando os bolsos das roupas para lavar, eu vi a nossa história passar pelos meus olhos, quando eu li em um pedacinho de papel um recadinho endereçado a ele: “Sua presença me reaviva, a doença me machuca menos, o que se passa além do meu véu não me assusta mais. Estar na sua companhia é acalentador. Espero viver o bastante