Texto complementar
Um sociólogo é alguém capaz de se libertar do quadro das suas circunstâncias pessoais e pensar as coisas num contexto mais abrangente. O trabalho sociológico depende do que o autor americano Mills, numa frase famosa, denominou de imaginação sociológica.
A imaginação sociológica implica, acima de tudo, abstrairmo-nos das rotinas familiares da vida quotidiana de maneira a poder olhá-las de forma diferente. Tenha-se em consideração o simples ato de beber uma xícara de café.
O que há a dizer, do ponto de vista sociológico, acerca de um comportamento aparentemente tão desinteressante?
Imenso.
Podemos começar por notar que o café não é meramente uma bebida. Enquanto parte das nossas atividades sociais quotidianas possui um valor simbólico. O ritual associado ao ato de tomar café é frequentemente muito mais importante que o consumo de café propriamente dito. Duas pessoas que combinam encontrar-se para tomar café estarão provavelmente mais interessadas em estarem juntas e conversarem do que em beber, de fato, café. Em todas as sociedades, na realidade, beber e comer proporcionam ocasiões para a interação social e o desempenho de rituais – e tal fornece temáticas ricas para o estudo sociológico.
Em segundo lugar, o café é uma droga, pois contém cafeína, que exerce no cérebro um efeito estimulante. Os adeptos do café não são vistos pela maioria das pessoas no Ocidente como consumidores de droga. O café, tal como o álcool, é uma droga socialmente aceitável, enquanto a marijuana, por exemplo, não o é. No entanto, há sociedade que permitem o consumo de marijuana e mesmo de cocaína, mas desaprovam tanto o café como o álcool. Os sociólogos estão interessados nas razões pelas quais estes contrastes existem.
Em terceiro lugar, um indivíduo que bebe uma xícara de café está envolvido numa complicada rede de relações sociais e econômicas de dimensão internacional. O café é um produto que liga as pessoas de algumas das partes