Terceiro mundo e revolução - capítulo do livro: era dos extremos de eric hobsbawm
Muitos poucos Estados do Terceiro Mundo, de qualquer tamanho, atravessaram o período a partir de 1950 (ou da data de sua fundação) sem revolução, golpes militares para suprimir, impedir ou promover revolução; ou alguma outra forma de conflito armado interno, com exceção da Índia, Malavi e Costa do Marfim. Essa instabilidade era igualmente evidente para os EUA, protetores do status quo global, que a identificavam com o comunismo soviético, ou pelo menos a encaravam como uma vantagem permanente e potencial para o outro lada na grande luta global pela supremacia. Quase desde o início da Guerra Fria, os EUA partiram para combater esse perigo por todos os meios, de preferência em aliança com um regime local amigo ou comprado, mas se necessário, sem apoio local. Foi isso que manteve o Terceiro Mundo como uma zona de guerra, quando a Primeira e Segunda Guerras Mundiais se resolveram na maior era de paz desde o século XIX. Estimava-se que até 20 milhões de pessoas haviam sido mortas em mais de cem “guerras maiores e ações e conflitos militares” entre 1945 e 1983, praticamente todas no Terceiro Mundo. O Conflito Irã-Iraque, a Guerra da Coréia, e os trinta anos de guerras do Vietnã, foram de longe as maiores guerras, as únicas em que as próprias forças americanas se envolveram diretamente em grande escala. O potencial revolucionário do Terceiro Mundo era igualmente evidente nos países comunistas, quando nada porque, como vimos, os líderes da libertação colonial tendiam a encarar-se como socialistas. Durante várias décadas, a URSS adotou uma visão essencialmente pragmática de sua relação com os movimentos revolucionários, radicais e de libertação do Terceiro Mundo, pois nem pretendia nem esperava aumentar a região sob governo comunista além da extensão da ocupação soviética no Ocidente. Esse pensamento continuou mesmo quando várias revoluções autóctones, em que os comunistas não