Tadições
Marcos Lobato Martins Uma pessoa incomum. Historiador respeitado e bastante conhecido. Intelectual atuante, cuja simpatia cativa os interlocutores. Eric Hobsbawm é o “comunista” que escreve sobre jazz. E sobre bandidos. O mestre-escola de gerações de moços e moças que cursaram (e ainda hoje cursam) disciplinas de Ciências Sociais e Humanidades nas mais diversas universidades pelo mundo afora. O professor Hobsbawm habita em espírito nossas bibliotecas, representado por meio da volumosa obra que escreve desde os anos 1950. Não como um hóspede que se recebe com carinho e orgulho, mas que é deixado a um canto na maior parte do tempo, envolto consigo mesmo, por força de condescendências familiares. Ao contrário, Hobsbawm está nas nossas bibliotecas puxando-nos para conversas às vezes incômodas, mas sempre instigantes. Ele anima debates sobre o passado e o presente, prende nossa atenção em entrevistas nos jornais, revistas e televisões sobre acontecimentos urgentes, que implicam dramas humanos nos dois lados do Atlântico, e mesmo além. Ver Eric Hobsbawm elucidar processos históricos decisivos para a formação da contemporaneidade é experiência agradável. Fica-se à espera de suas críticas às interpretações tradicionais, acompanhadas do oferecimento de novos ângulos de visão, a partir do arsenal marxista que ele próprio ajudou a renovar. A coerência de Eric Hobsbawm é admirável, numa época dominada pelos oportunismos de toda espécie. Talvez por isso, em razão da combinação singular de “memória” e “história” que brota da fala pausada e articulada de Hobsbawm, ficamos enlevados ao ouvi-lo pessoalmente. Será ele um dos derradeiros “narradores” que encheram de nostalgia os escritos melancólicos de Walter Benjamin? Sir Eric Hobsbawm, cuja longa vida se confunde com a velocidade, agitação e violência do século XX, é aqui, neste pequeno trabalho, o pretexto para falar de História, Tradições Intelectuais e Política.
Em tempos interessantes, o encontro com a