TENTATIVAS DE ORGANIZAÇÃO REGIONAL DA AMÉRICA DO SUL DURANTE O SECULO XX: O MERCOSUL
INTRODUÇÃO
As discussões sobre o Mercosul enfatizam a relevância econômica da criação do Mercado Comum para os países da região: a modernização interna, com destaque para a complementaridade entre as cidades produtivas, e a inserção competitiva no comércio internacional. Deu-se, porém, pouca atenção aos aspectos políticos que contribuíram para viabilizar o processo de integração. Na verdade, pode-se mesmo dizer que a existência de pré-requisitos políticos está na origem da interação ora em curso.
No campo político, os aspectos cruciais, que permitiam a existência de condições favoráveis para a criação do Mercosul, foram as mudanças do caráter das relações entre Brasil e Argentina e o estabelecimento da democracia em ambos os países1. Até o final dos anos 70, as relações entre os dois países foram marcadas por disputas hegemônicas latentes, que criavam situações de competição e conflito.
A corrida armamentista entre os dois países já se esboçava quando os dois governos recusaram qualquer comprometimento formal com a não proliferação de armas nucleares na região. Mais tarde, já no início da década de 70, as tentativas de domínio da energia nuclear e das técnicas de enriquecimento do urânio, promovidas por ambos os países, começaram a delinear um quadro cuja continuidade poderia acarretar riscos para a estabilidade continental. O Acordo de Cooperação Nuclear de 1980 e os acordos que se lhe seguiram com isso, a fase de construção da confiança mútua no palco estratégico-militar. Os acordos de cooperação no campo nuclear são, na verdade, subprodutos da cooperação mais ampla que se verificou a partir da celebração do Acordo sobre o Aproveitamento dos Recursos Hídricos do Rio Paraná, em 1979.
A gradação dos governos autoritários para os regimes democráticos foi a baliza que possibilitou a metamorfose das relações de divergência em virtude de cooperações entre Brasil e