Temática: Fernão Lopes: o “pai da História”
Nos dois primeiros séculos da Literatura Portuguesa, o registro dos acontecimentos, a que poderíamos chamar de
“historiografia”, resumia-se a um rol de nomes ou a simples relatos acompanhados de algumas interpretações. É com Fernão Lopes que as crônicas alcançam posição relevante, tanto do ponto de vista histórico como literário.
Ironicamente, nada se sabe com certeza sobre o lugar e a data de nascimento
(provavelmente entre 1378 e 1383) daquele que é considerado o “pai da História” em Portugal. Desconhece-se, também, a data de sua morte – o último registro que se tem dele é de 1459.
No entanto, com relação aos fatos que não diziam respeito somente a ele,
Fernão Lopes era extremamente consciencioso: não se limitava a trabalhar exclusivamente do relato oral, mas pesquisava a fim de basear-se em documentos escritos que lhe subsidiassem os perfis de reis e fidalgos que traçava e as interpretações que fazia dos fatos.
Além de suas próprias versões dos acontecimentos, cujas causas econômicas e psicológicas não deixava de considerar, Fernão Lopes registrava outras que já haviam sido dadas sobre eles, passando-as pelo crivo de sua análise e de suas críticas que, muitas vezes, foram consideradas parciais, mas que mesmo assim se justificavam, segundo Hernani Cidade, pelo “ardoroso apostolado nacionalista” de Fernão Lopes.
Sua atitude de pesquisador responsável é apontada por alguns estudiosos, inclusive por Alexandre Herculano, como reveladora da “modernidade” de seu conceito de “crônica”. Além disso, diferencia seu trabalho a constante presença do povo, dos movimentos de massa: “o povo é a grande personagem daquela época do seu acordar; /.../ o povo aparece em primeiro plano” , escreve Hernani Cidade, exemplificando essas características com episódios narrados pelo cronista. E acrescenta: “Talvez o povo tenha na história de Fernão Lopes todo este relevo, porque todas as realidades e
Das muitas