Tem e têm, contém, contêm,
: são casos especialíssimos, ortográfica e morfologicamente. A comissão que tratou de nossos acentos procurou — e conseguiu na grande maioria dos casos — criar regras que tenham um valor geral e sejam aplicáveis a todo e qualquer vocábulo que se enquadre em determinado perfil prosódico e ortográfico. Para solucionar o problema de têm e vêm, contudo, não teve outro remédio senão criar uma regra ad hoc.
Numa espécie de azar flexional, a 3ª pessoa do sing. e a 3ªdo plural do Presente de TER e VIR, dois de nossos mais importantes verbos, são absolutamente idênticas: ele TEM, eles TEM; ele VEM, eles VEM. Muita gente me escreve “sugerindo uma solução” para o problema (Santa ingenuidade! Como o mundo pode ser tão simples assim para alguns?): bastaria dobrar o E no plural: ele tem, eles têem, e pronto! O que eles não sabem é que as formas terminadas em –êem na 3ª do plural correspondem, morfologicamente, a uma 3ª do singular terminada em –ê: ele lê, eles lêem; ele provê, eles provêem; ele relê, eles relêem. Ninguém decidiu que seria assim; é assim porque o Português assim se estruturou, sem pedir sugestão ou opinião de professor, de gramático, de leitor ou de transeunte. Portanto, fica descartada a brilhante solução.
Os próprios acadêmicos que reformaram nossa ortografia nada poderiam fazer quanto a esse “defeito” flexional dos dois verbos. Só tinham poderes para decidir sobre a maneira de grafá-los — e aí eles puderam dar sua pequena contribuição: assinalaram o plural com um acento circunflexo, tornando as duas formas distintas ao menos na escrita: ele tem, eles têm; ele vem, eles vêm. Friso que a pronúncia continua exatamente a mesma, não vá algum desavisado tentar pronunciar com mais força e entusiasmo a 3a. do plural.
Dentro do que podiam fazer, estava solucionado o problema. Quer dizer: quase, porque mexer em ortografia é como mexer em abelheiro — vem inseto zumbindo de todos os lados. Não podemos esquecer que ter e vir produzem muitos