teatro
Primeiro Manifesto
In O teatro e seu duplo
Antonin Artaud
Max Limonad, 1984
Não é possível continuar a prostituir a ideia de teatro, que só é válido se tiver uma ligação mági¬ca, atroz, com a realidade e o perigo.
Assim colocada, a questão do teatro deve des¬pertar a atenção geral, ficando subentendido que o teatro, por seu lado físico, e por exigir a exprmão no espaço, na verdade a única real, permite aos meios mágicos da arte e da palavra exercerem-se organica¬mente e em sua totalidade, como exorcismes reno¬vados. De tudo isto conclui-se que não se devolverá ao teatro seus poderes específicos de ação antes de sua linguagem lhe ser devolvida.
Isto significa que antes de voltar a textos consi¬derados como definitivos e sagrados, é mais impor¬tante romper a sujeição do teatro em relação ao texto e reencontrar a noção de uma espécie de lingua¬gem única a meio caminho entre o gesto e o pensa¬mento.
Esta linguagem não pode se definir a não ser pelas possibilidades da expressão dinâmica e no espaço, em oposição às possibilidades da expressão pela palavra dialogada. E aquilo que o teatro ainda pode extrair da palavra são suas possibilidades de expansão fora das palavras, de desenvolvimento no espaço, de ação dissociadora e vibratória sobre a sensibilidade. É aqui que intervêm as entonações, a pronúncia parti¬cular de uma palavra. É aqui que intervêm, fora da linguagem auditiva dos sons, a linguagem visual dos objetos, movimentos, atitudes, gestos, mas com a condição de que se prolonguem seu sentido, sua fisionomia, a mistura de tudo isso até a formação de signos, fazendo desses signos uma espécie de alfa¬beto. Tendo tomado consciência dessa linguagem no espaço, linguagem de sons, gritos, de luzes, onomato-péias, o teatro deve organizá-la constituindo com as personagens e os objetos verdadeiros hieróglifos, servindo-se do simbolismo deles e de suas correspon¬dências com relação a todos os órgãos e em todos os planos.
Trata-se portanto,