Tartarugas Podem Voar
Vivemos atualmente em um mundo individualista e consumista, tentando satisfazer todos nossos desejos fúteis e mesquinhos sem prestar atenção em nada que acontece ao nosso redor. Nossos problemas parecem ser insolúveis e nossa percepção de mundo não ultrapassa a tela da televisão. Ao assistirmos o filme “Tartarugas podem voar” de Bahman Ghobadi a realidade se coloca a nossa frente; nua e crua. O filme é indagador de nossa consciência coletiva ao mostrar o cotidiano de crianças órfãs em meio à guerra, onde só o que importa é a sobrevivência e a chegada do dia de amanhã.
Esse filme retrata um acampamento curdo na fronteira Irã-Iraque onde os refugiados vivem a espera de notícias sobre a guerra, na véspera da invasão norte-americana. Quem traz essas notícias é o jovem protagonista, apelidado de Satélite, ao instalar antenas no povoado para que a população local possa saber o que está acontecendo. Ao mesmo tempo, ele fica incumbido de ser o tradutor desses noticiários para os habitantes da vila mesmo conhecendo poucas palavras em inglês. Além disso, Satélite comanda um grupo de crianças órfãs que sobrevivem recolhendo minas americanas e revendendo-as a comerciantes locais.
A chegada ao povoado de uma menina; Agrin, e seus (aparentemente) dois irmãos dá ao filme mais um conteúdo denso e cruel. O irmão maior foi mutilado pela guerra e não tem os dois braços tendo, assim, que recolher as minas com a boca. O irmão menor é cego e veremos mais tarde que não se trata de um irmão, mas de um filho que foi conseqüência de um estupro sofrido pela menina por soldados americanos. Este episódio do estupro torna-se o pesadelo desta jovem menina; constituindo-se em imagens angustiantes do seu passado que são mostradas num flash-back durante todo o filme tentando mostrar-nos a idéia do sofrimento e do caos psicológico em que vive. No mesmo contexto, esta mesma menina torna-se a identidade de Satélite; ao mostrar paradoxalmente que os dois vivem em um estado de