Tamarindo
Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa
Não sou alegre nem sou triste: sou poeta Irmão das coisas fugidias; não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias no vento.
Se desmorono ou edifico, se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico ou se passo
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada
E um dia sei que estarei mudo:
- Mais nada
Conclusão: Logo que iniciamos a leitura do poema, notamos que é todo elaborado em primeira pessoa, trata-se do “eu” lírico, que se refere à subjetividade, ao íntimo, à descrição dos sentimentos. Observemos este exemplo.
A Velhice Pede Desculpas
Tão velho estou como árvore no inverno, vulcão sufocado, pássaro sonolento.
Tão velho estou, de pálpebras baixas, acostumado apenas ao som das músicas, à forma das letras.
Fere-me a luz das lâmpadas, o grito frenético dos provisórios dias do mundo:
Mas há um sol eterno, eterno e brando e uma voz que não me canso, muito longe, de ouvir.
Desculpai-me esta face, que se fez resignada: já não é a minha, mas a do tempo, com seus muitos episódios.
Desculpai-me não ser bem eu: mas um fantasma de tudo.
Recebereis em mim muitos mil anos, é certo, com suas sombras, porém, suas intermináveis sombras.
Desculpai-me viver ainda: que os destroços, mesmo os da maior glória, são na verdade só destroços, destroços.
Conclusão: O tempo é que nos faz todos iguais,Todos nós envelhecemos, mas nem todos amadurecem.
Como se Morre de Velhice
Como se morre de velhice ou de acidente ou de doença, morro, Senhor, de indiferença.
Da indiferença deste mundo onde o que se sente e se pensa não tem eco, na ausência imensa.
Na ausência, areia movediça onde se escreve igual sentença para o que é vencido e o que vença.
Salva-me, Senhor, do horizonte sem estímulo ou recompensa onde o amor equivale à ofensa.