São paulo, rolnik raquel. coleção folha explica. publifolha, 2001.
GILBERTO DIMENSTEIN, do Conselho Editorial
Quem vive em São Paulo -e não quer enlouquecer- vê-se forçado a resignar-se à imprevisibilidade do caos.
Acabamos desenvolvendo uma relação de ódio e amor com a cidade: oferece os melhores empregos, as melhores exposições, as melhores chances de negócios, os melhores restaurantes e o maior aglomerado de pessoas interessantes. Viver aqui é sinônimo de possibilidade de progredir.
Mas também é a cidade das impossibilidades. Sentimo-nos reféns: o pior trânsito, a pior poluição, a pior paisagem, as piores enchentes, a pior qualidade de vida entre as capitais.
Juntamos a tal ponto esses extremos da impossibilidade e da possibilidade que, em alguns bairros, aprendemos antes a implantar malhas de fibra ótica, conectadas com o século 21, do que eficientes sistemas de esgoto.
O caos paulistano, porém, não é caótico. Tem uma lógica, uma explicação. No livro "São Paulo", da coleção Folha Explica, a urbanista Raquel Rolnik conseguiu juntar os fragmentos históricos que explicam o caos, desde a fundação da cidade até nossos dias.
A história de São Paulo é a histórica de uma comunidade partida, que gera, ao mesmo tempo, opulência e exclusão. Isso explica o trânsito infernal: já no começo do século, havia propostas de montar um sistema integrado de bonde, trem, metrô e ônibus, a exemplo de Nova York e Buenos Aires.
A lógica excludente fez que São Paulo preferisse abrir espaço para veículos sobre pneus e ficássemos reféns dos congestionamentos, com poucas alternativas de transportes públicos.
Num texto simples e saboroso, Raquel mostra, passo a passo, a construção da desordem de uma cidade, destruída por políticas urbanas erradas, dominação dos especuladores imobiliários, corrupção, migrações explosivas. Os pobres foram sendo expelidos para longe, os ricos entrincheiravam-se em bairros-jardins, num movimento que prosseguiu na periferia e nos enclaves como shopping centers e condomínios de luxo.
São