Sus a saúde
Antes restrita a indigentes que perambulam pelo centro, o crack hoje é consumido por paulistanos de todas as classes sociais
As histórias contadas por usuários e ex-usuários de crack são chocantes. Sempre. Quem cai nas teias dessa droga derivada da cocaína tem em um curto espaço de tempo a saúde devastada, as relações sociais destruídas e a vida destroçada. São depoimentos crus, sem meias palavras, que humanizam estatísticas cada vez mais alarmantes. Dados da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostram um crescimento de 42% no número de viciados em crack que procuraram tratamento entre 2005 e 2009 no Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (Proad).
Os relatos têm suas evidentes particularidades, mas se parecem ao mostrar que o usuário mergulha em total perda de contato com a realidade e em uma tamanha dependência que nada, absolutamente nada, é mais importante do que a próxima pedra a ser fumada. Emprego, amigos e família (pais, cônjuge e até os próprios filhos) desabam na escala de valor de quem está possuído pela droga. “O crack é a droga da amoralidade. Faz o usuário virar um homem de Neandertal”, afirma o psiquiatra Pablo Roig, especialista em dependência química e dono da clínica Greenwood, em Itapecerica da Serra — lá, 60% dos pacientes internados são viciados em crack; até 2000, essa estatística beirava zero. “Na boca, tem sempre mais gente vendendo crack do que outras drogas. Parece fila do McDonald’s”, diz João, 25 anos, estudante de engenharia, filho e neto de médicos, que há um ano e dois meses tenta largar o vício na Greenwood e paga 500 reais pela diária.
A degradação acontece em uma velocidade incontrolável. Em menos de um mês, o fumante deixa de ser um ingênuo calouro em busca de novas sensações para se tornar usuário contumaz, viciado e entregue aos efeitos devastadores da droga. Ao contrário do que ocorre com a maconha, com o álcool e mesmo com a cocaína, que, apesar do