Sonoridade e métrica de Antônio Cícero em "A beleza do sair"
Para que essa visão sobre o poema seja possível, Antônio Cícero faz uso de efeitos sonoros que embalam o poema e dos versos livres.
O autor utiliza muito o enjambement ao longo de todo o poema com maestria. Ligando-se os versos uns aos outros por meio desse recurso, criou-se a ideia de continuidade, oferecendo ao poema seu ritmo incessante. Dessa forma ele é capaz de reforçar a ideia do poema pela estrutura dos versos.
Além desse recurso, outro muito interessante são as assonâncias e aliterações, que ocorrem ao longo de todo o texto também reforçando as ideias transmitidas. Um exemplo é no trecho “o vulto ao vento das palmeiras”, em que a aliteração do fonema /v/, que é lábio-dental fricativo, sugere a ideia do vento correndo. Há também, por exemplo, aliteração em “as luzes cinéticas das avenidas”, em que o fonema /s/, que é alveolar fricativo, nos finais das palavras sugere a velocidade que o autor quer representar no poema. Já nas assonâncias podemos notar em “a ânsia insaciável do jasmim” a repetição das vogais /a/, que é aberta, e /i/, que é fechada, alternadamente, produzindo o efeito de enjoo. Ademais, o ritmo da poesia é marcado por uma pontuação intensa, que cria pausas apenas no início, marcando ponto a ponto todas as coisas que devem ser “largadas” para que se possa apreciar a vida, como se o poeta quisesse enfatizar uma a uma as coisas que não nos deixam ser livres. Já no meio e final do texto, a pontuação se faz menos presente, evidenciando um fluxo de imagens que representam o universo e sua própria fluidez e continuidade. Além disso, o poema é constituído por versos brancos, ou seja, sem rimas. Há apenas uma rima toante interna em “medo” e “terço” e uma rima pobre em “dizer” e “esclarecer”. Isso faz com que o poema flua diferentemente, pois, combinada com o enjambement, a falta de rimas tira as pausas ao final dos versos, como se não houvessem versos, soando quase como um poema em prosa. Por fim, a métrica