Sociologia
Capítulo 11
—I Sociedade, educação e vida moral
O homem faz a sociedade ou a sociedade faz o homem?
Num de seus sambas, Paulinho da Viola narra a trajetória de um malandro do morro, Chico Brito. Na canção, ele é malandro, sim, vive no crime e é preso a coda hora. Paulinho, porém, não atribui sua condição a uma falha de caráter. Chico era, em principio, tão bom como qualquer outra pessoa, mas “o sistema” não lhe deixara outra oportunidade de sobrevivência que não a marginalidade. O último verso diz tudo: “a culpa é da sociedade que o transformou". Já em outra canção, bem mais conhecida, Geraldo Vanclre dá um recado com sentido oposto: “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Somos nós que fazemos a hora? Ou a hora já vem marcada, pela sociedade em que vivemos? O que, afinal, o “sistema” nos obriga a fazer em nossa vida? Qual a nossa margem de manobra? Qual o tamanho da nossa liberdade?
Data dos primeiros esforços dos fundadores da sociologia como disciplina com pretensões científicas a dificuldade em lidar com essa tensão existente entre, de um lado, a possibilidade de ver a sociedade como uma estrutura com poder de coerção e de determinação sobre as ações individuais e, de outro, a de ver o indivíduo como agente criador e transformador da vida coletiva.
Diante da necessidade de demarcar um espaço próprio dentro do campo científico para esta nova disciplina acadêmica, alguns se empenharam em demonstrar a existência plena de uma vida coletiva com alma própria, acima e fora das mentes dos indivíduos. Buscavam com isso delimitar um campo de investigação que estivesse fora da alçada da psicologia (que já lidava com a mente do indivíduo) ou de outra ciência humana qualquer. Outros pensaram em tratar a ação individual como o ponto de partida para o entendimento da realidade social e, embora também fugissem do “psicologismo”, colocaram a ênfase não no peso da coletividade sobre os homens, mas na capacidade dos homens cle forjar a sociedade a partir