sociologia
Penso que o título do filme, já carrega uma intenção. Trata-se de um significante embaixo do qual vários significados podem escorregar. Começa na estação de ferro Central do Brasil, e ela se estabelece como um núcleo central, a partir do qual irradiam as estórias, em diferentes níveis.
No nível sociológico, abre uma janela para importantes aspectos da nossa sociedade, tais como, a ausência de ordem, a violência , a pobreza física e intelectual, a invasão agressiva dos espaços.(magistralmente mostrada na cena da invasão desordenada de corpos pelas janelas do trem) e o anonimato dos pés lotando as calçadas da estação. Estabelece uma oposição entre a sociedade carente urbana carioca e a sociedade carente rural nordestina.
No nível político, deixa claro a ausência de uma hierarquia representativa, e a situação de marginalização financeira e cultural de todo um povo que analfabeto, fica entregue ás mãos de critérios autoritários de indivíduos sem nenhum escrúpulos como Dora. Indivíduos que mantém o poder de interferirem arbitrariamente na vida das pessoas, pelo simples fato de terem acesso á cultura.
No nível antropológico, trazendo hábitos e personagens de passagem, fortemente constituídos e caracterizados, mas aprofunda-se mais nos valores da cultura urbana indiferente e moralmente deteriorada de Dora e na cultura sertaneja do menino, onde a descrença e a indiferença cínica e amoral é substituída pela fé, pela solidariedade e pela integridade moral.
Finalmente no nível individual, com os dois personagens centrais, empreendendo uma profunda viagem ao centro deles mesmos, através da descoberta do Outro. E é esse o nível que pretendo olhar de perto aqui com vocês.
Numa entrevista que o diretor do filme, Walter Salles, deu em março de 1998 ao psicanalista Jurandir Freire Costa ,ele diz: "É um filme sobre a necessidade de vermos o outro e descobrimos o afeto, capaz de mudar a nossa relação com a vida."
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