Sobre o princípio de não-contradição no livro Γ da Metafísica de Aristóteles
Alexandre H. Nicolini
1. Significar algo - ser substância ou acidente
O desejo natural pelo conhecimento nos leva a investigar os aspectos gerais da realidade do mundo tal como ele se apresenta, para daí chegarmos às considerações ulteriores acerca dos seres e de suas propriedades em particular. No concernente a tal investigação, a qual Aristóteles denomina como ciência do “ser enquanto ser”[Metafísica Γ, 1003a 21], é necessário que seja tomado como ponto de partida a apreensão dos princípios que fundamentam o modo pelo qual podemos estabelecer tudo o que existe, possibilitando a distinção correta da estrutura da realidade. No ponto de vista de Aristóteles, uma ciência do ser enquanto ser é possível porque o homem, dado que ele é um conhecedor, é capaz de abstrair da realidade aparente, i.e. daquilo que ele apreende imediatamente aos sentidos, a distinção entre quê coisas existem e quais atributos pertencem ou não a cada uma delas. Contudo, para haver uma investigação do ser em geral, dado que “o ser é dito de muitos modos, mas em relação a algo único e uma natureza única” [Metafísica Γ, 1003a 33], devemos distinguir entre os seres, aqueles que são substâncias e suas essências e aqueles que são acidentes. Assim, para distinguirmos entre essas noções, sc. substância, essência e acidente, é preciso fazer um recorte na realidade, ou seja, determinar sob quais critérios podemos nos referir àquilo o que existe. O primeiro passo a ser dado é recorrer a noção de predicação em Aristóteles, a qual sobretudo delimita que um termo sujeito de uma predicação é um item da categoria da substância ou uma essência, e os diversos predicamentos ou são essências ou são acidentes. Somente as substâncias estão sujeitas a receber os dois tipos de predicação, a saber a predicação homogênea, aquela que expressa precisamente o que x é, isto é a essência; e a predicação