Sobre o Dom
O texto traz a ideia de dom como processo simbólico de contato, de socialização, envolvendo a tríade dar-receber-retribuir. De cara veio-me à mente a ideia do chamado “altruísmo recíproco” (o ato em prol de algo ou alguém, mas que nas entrelinhas também pede algo em troca, nem que ao menos seja o reconhecimento por tal). Isso também ilustra um pouco a questão do dom. Uma ação direcionada a alguém, um “dar”, uma resposta a esse gesto, um “receber” a contrapartida esperada pelo outro que deu, um “retribuir”. Mauss detalha esse processo como um entrelaçamento de fenômenos de diferentes naturezas, que irá caracterizar um novo paradigma, para além do Holismo e do Individualismo.
Aplicando essa perspectiva do dom nas práticas comunitárias em Psicologia, partindo da premissa que a Psicologia inserida na comunidade visa a emancipação de seus indivíduos, em favor de lutarem por sua própria cidadania, o dom não apenas integra mas simboliza todo esse processo de aproximação, contato e intervenção. Repare que essa perspectiva não se adequa aos modelos de dom que visam puramente a caridade (desinteressados, espontâneos, soltos, mas que não constroem novas realidades, apenas supre as dificuldades de forma pontual), nem aos modelos utilitaristas (diretamente focados, interessados no objeto e não no processo). A Psicologia Comunitária, em suas práticas em comunidade, baseia-se indubitavelmente nessa terceira perspectiva que exalta a troca das experiências, a relação, a comunicação e todos os simbolismos presentes nesses processos, até porque essa troca não ocorre de forma estrita, pelo contrário, suas entrelinhas são recheadas de significados. Uma postura da Psicologia diferente desta deixaria a comunidade em situação de domínio, como simples assistidos ou beneficiários, e não como cidadãos que têm direito de reivindicar por suas próprias demandas. Essa postura não faria com que os indivíduos dessa comunidade