Sobre Graciliano Ramos
EM MEMÓRIAS DO CÁRCERE
Rosiane Silva de Souza
Mestranda em Literatura Portuguesa / UFRJ
Caminhando, movia-se como uma coisa (...)
Pareciam ratos (...)
Você é um bicho (...)
Graciliano Ramos*
A epígrafe deste trabalho bem poderia ter saído da boca de um dos personagens do livro Memórias do cárcere, de Graciliano Ramos. Na narrativa, bem como na epígrafe, percebe-se o processo de desumanização do corpo humano mediante algumas adversidades. Em determinadas situações, o ser humano como que se bestializa, expondo a “rudeza natural” que, como se vê, é natural de todos. Este conflito crescente entre a rudeza que é natural de todos os indivíduos e o “polimento” necessário para se viver em sociedade é que vem a ser retratado em Memórias.
O realismo e suas teorias deterministas por excelência voltam a ser utilizadas. Se, diante de determinadas situações, o homem expõe sua “rudeza natural”, se embrutece, deixando aflorar seus instintos, o que diferencia esse homem de um animal? A capacidade de pensar? A capacidade de falar? Ou seria a capacidade de organizar esses pensamentos em determinadas leis? Este questionamento deve permear nossa mente durante toda a leitura de Memórias. Ele nos mostra, a todo momento, a tênue diferença existente entre nós e os animais. E mostra também como, diante de uma situação crítica, o ser humano se “animaliza”.
Essa situação crítica, mencionada no parágrafo anterior, é a prisão do próprio Graciliano Ramos, o narrador-autor-personagem deste livro de “memórias”. Sua prisão data do ano de 1937, época em que a ditadura está a todo vapor aqui no Brasil. Graciliano é preso por sua trajetória politicamente engajada. Seus livros, como sabemos, inspiraram a criação do movimento neo-realista português, que foi um movimento, tal qual o regionalismo brasileiro, de revolução pela literatura.
A revolução, neste livro, também se faz pela literatura, mas de uma maneira bem diferente da neo-realista. O