SOBRE FRITZ PERLS E EGO FOME E AGRESSAO
Meu primeiro contato com Ego, fome e agressão ocorreu durante minha formação em Gestalt-terapia, no início dos anos 80, por intermédio de uma grande e sábia amiga, Gercy Campos, com quem aprendi a essência de muito do que aplico até hoje em minha prática fenomenológico-existencial. Ela me forneceu a edição em espanhol do livro, o que me deu grande interesse de buscar entender as origens da abordagem gestáltica. Posteriormente, consegui acesso à edição norte-americana, que me suscitou a idéia de traduzi-la para o português – seria meu trabalho de final de curso – já que a obra não existia em nossa língua. Isto favoreceria o conhecimento de muitos que não dominam o inglês e o espanhol. Essa empreitada começou nessa época e é fruto de minhas preocupações com a consistência teórico-epistemológica da Gestalt-terapia. A publicação de Ego, fome e agressão no Brasil, além de marcar o centenário de Frederick (Fritz) S. Perls (1893-1970), fundamenta-se nas circunstâncias históricas e nas influências teóricas que levaram o criador da Gestalt-terapia à elaboração de sua primeira obra. Em 1920, aos 27 anos, Fritz graduou-se em medicina, interessando-se por neuropsiquiatria. Nessa época, se identifica com o movimento da contracultura, integra-se à classe boêmia de Berlim e ao grupo “Bauhaus”, de artistas e políticos dissidentes. Nesse meio, tem seu primeiro contato com a filosofia através de Sigmund Friedlaender, autor de Creative indifference, que muito o influenciou. Em sua autobiografia (In and Out the Garbage Pail1), Perls assim se refere a Friedlaender:
“Meu primeiro encontro filosófico com o nada foi o nada em forma de zero. Descobri-o sob o nome de indiferença criativa, através de Sigmund Friedlaender. Reconheço três gurus na minha vida. O primeiro foi S. Friedlaender, que se autodenominava neokantiano. Com ele aprendi o significado do equilíbrio, do centro-zero dos opostos. O segundo é Selig, nosso escultor e arquiteto do