Sistema de Yalta
PAULO G. FAGUNDES VIZENTINI*
Introdução
Transcorridos cinqüenta anos da Conferência de Yalta e encerrado o ciclo histórico regido pelo sistema internacional nela estruturado, faz-se necessário repensar estas questões sem o envolvimento político, ideológico, pessoal e sentimental que caracterizaram a maioria das análises até o presente. Por outro lado, Yalta pode ser enfocada num sentido restrito ou amplo. De forma restrita,
Yalta é considerada meramente como um acordo diplomático que configurou um sistema internacional bipolar antagônico, opondo o Oeste capitalista ao Leste socialista, blocos liderados respectivamente pelas superpotências americana e soviética. Ainda dentro deste enfoque, Yalta é analisada apenas em relação ao cenário europeu, generalizando-se esta percepção para o sistema internacional como um todo. Assim, a divisão da Europa passa a ser entendida como a divisão do mundo.
Acreditamos que este sentido restrito de Yalta encobriu, historicamente, uma outra dimensão mais ampla da questão, que precisa ser resgatada. Yalta não propiciou somente um conflito Oeste-Leste, nem a Europa foi seu único cenário.
O chamado Sistema Bipolar de Yalta teve profundas implicações para a América
Latina e para a periferia colonial e semicolonial afro-asiática, regiões que ficariam conhecidas como Terceiro Mundo. A posição internacional dos países do Sul dentro do Sistema de Yalta nos revela não apenas um confronto entre os
Rev. Bras. Polít. Int. 40 (1): 5-17 [1997].
* Professor Titular de História Contemporânea e Relações Internacionais na Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
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EUGÊNIO VARGAS GARCIA
dois blocos antagônicos, mas também uma poderosa estrutura de dominação das potências do Norte sobre o Sul. A subordinação dos países periféricos de um dos sistemas em relação à potência dominante de seu próprio