SIMULADO INSS Formacao Em Direito
(Formação em Direito)
LÍNGUA PORTUGUESA
Rodrigo Bezerra
A vida dos outros
Almoço fora todos os dias. Isso não é problema, porque meu escritório fica em local muito movimentado e com grande variedade de restaurantes. Em geral, prefiro aqueles que oferecem comida a quilo, essa maravilhosa invenção moderna (há quem garanta ser invenção brasileira) que permite comer na medida certa, sem desperdícios, e observar os pratos antes de fazer a escolha.
Mas gosto dos restaurantes a quilo também por outra razão: são feitos sob medida para os solitários.
Neles, reinam os introvertidos, os retraídos, os tímidos. Você entra, escolhe, pesa, se senta, come, paga e vai embora. Se não quiser, não precisa conversar com ninguém, emitir um som, pronunciar uma só palavra.
Talvez por isso, os restaurantes a quilo vivam apinhados de pessoas sozinhas. Neles, elas não têm qualquer pudor de se sentar à mesa sem ter companhia, nem nos fins de semana, que é tempo de família, amigos, congregação. Os restaurantes a quilo são também muito frequentados por turistas, pois é um conforto para eles entrar e comer num lugar em que não precisam tentar se entender com pessoas que só falam essa língua secreta chamada português.
O restaurante a quilo é o lugar onde a palavra é supérflua e onde deveria reinar o silêncio. Pois é – deveria. Mas o que ocorre é justamente o contrário. E por quê? Por culpa do telefone celular.
Por alguma razão, as pessoas precisam falar ao celular quando se sentam para comer. Resolvem assuntos pendentes, pedem informações, fazem encomendas, fecham negócios ou mesmo batem papo com o amigo ou amiga que não vêem há tempos – e tudo isso enquanto mastigam e engolem o almoço. Pobres estômagos. E pobre de mim. Não consigo ficar indiferente ao que está sendo dito nos celulares à minha volta. Assim que a conversa se estabelece, começo a prestar atenção ao que está sendo dito e, daqui a pouco, quase sem perceber, me vejo vivendo a vida dos outros.
Sofro, brigo, peço ou