Shakespeare - Júlio Cesar - Interpretado a partir do conceito de República
(Nelson Garcia)
O poder da persuasão em Shakespeare
A peça "Júlio César", de William Shakespeare, trata do assassinato do general do senado e possivelmente futuro imperador de Roma, da traição de Brutus e dos conflitos gerados pelo poder. Tragédia escrita entre 1599-1600, relata os fatos ocorridos em 44 a.C. Através do jogos de palavras, o autor nos mostra como os personagens escondem suas verdadeiras intenções e manipulam o povo em relação aos adversários políticos.
A história começa com cidadãos nas ruas que querem ver César e são repreendidos por Flávio e Marulo: "Por que regozijar? Qual foi a grande conquista que ele fez?". Pode-se notar aqui uma crítica implícita de Shakespeare à irresponsabilidade do povo, que deixam de trabalhar para aclamar César por ter vencido Pompeu, que era um romano e não um inimigo. Já na próxima cena apresenta-se o discurso de Bruto e Cássio em relação à César. O primeiro aceita refletir sobre as idéias do segundo ("Há momentos em que os homens são donos de seus fados. Não é dos astros, caro Bruto, a culpa, mas de nós mesmos, se nos rebaixamos ao papel de instrumentos. Bruto e César! Que pode haver nessa palavra "César", para soar melhor que o vosso nome?"). Desde o início percebe-se a ambição e inveja de Cássio, que critica a vaidade de César e tenta insistentemente converter Bruto para seu lado.
É importante ressaltar uma fala de Casca ao contar para Cássio e Bruto sobre o motivo das aclamações do povo ser a recusa de César à diadema. "pela terceira vez, ele a afastou de si, e, a cada recusa a ralé prorrompia em aclamações, batia as mãos calosas, atirava