Serra pelada
NO PASSADO, 100 MIL HOMENS ENLAMEADOS DA CABEÇA AOS PÉS VASCULHARAM O MAIOR GARIMPO A CÉU ABERTO DO MUNDO. TRÊS DÉCADAS DEPOIS, A BUSCA PELO OURO ESTÁ SENDO RETOMADA – MAS DESTA VEZ NAS ENTRANHAS DA AMAZÔNIA
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SERRA PELADA EM 1982 E EM 2013 (FOTO: AURELIANO/ ESTADÃO CONTEÚDO) "Você quer saber o que é Serra Pelada hoje?”, responde em forma de pergunta José Raimundo Nonato Silva, um negro forte de 63 anos, dono de uma pele tão escura e brilhante que lhe valeu o apelido de Alumínio. “Isso aqui se tornou um cemitério de garimpeiros.” Sobrevivendo da aposentadoria da mãe, hoje Alumínio pode ser considerado um “blefado” – o que no peculiar dialeto desse povoado localizado a 45 quilômetros do município de Curionópolis, no sudeste do Pará, quer dizer simplesmente “pobre”.
Enquanto jogamos conversa fora em frente a um dos barracos de madeira que compõem o faroeste caboclo de Serra Pelada, praticamente intacto desde seu surgimento na década de 80, um homem conhecido apenas como Gaúcho se aproxima de nós e desembesta a falar, apontando para Alumínio. “Esse daí pegou muito ouro! Eu cheguei a ver esse cara jogando dinheiro para cima, numa praça aqui perto, que nem o Silvio Santos!”, conta, arrancando gargalhadas e movimentos de cabeça que atestam a veracidade de mais uma das infinitas lendas nascidas no maior garimpo a céu aberto que a humanidade conheceu.
SAEM DE CENA OS GARIMPEIROS ENLAMEADOS PARA DAR LUGAR A MÁQUINAS QUE VÃO EXPLORAR O OURO EM TÚNEIS (FOTO: LUIZ MAXIMINIANO) Pelas contas de Alumínio, os barrancos tocados por ele e seus colegas renderam cerca de 100 quilos de ouro – ou R$ 10,4 milhões, pela atual cotação do minério. “Mas a minha parte ficou só em 10%”, diz. “Como o senhor gastou isso?”, pergunto. “Fui garimpar!”, Alumínio responde com um sorriso malicioso, fazendo um losango com os dedos das duas mãos para representar o órgão genital feminino.
Exatos 21 anos após o decreto do então presidente Fernando Collor de Mello