Senhor
Olhei para aquelas caras felizes, cada qual com seu copo à mão. A tv anunciava o grande jogo da noite e discussões se acirravam nas mesas; cada qual mais exaltado que o outro. A uns poucos que se mantinham à porta tive a ousadia de perguntei-lhes o que representava aquele feriado para eles. De um ouvi que era um belo dia para descansar. Outro disse que iria pescar e os demais só concordaram. Resolvi diluir a pergunta. O que pensam vocês sobre o 25 de abril, o que representa? O levantar de ombros foi sincronizado. Um misto de perplexidade e ignorância diante da pergunta. Um deles resolveu esboçar o que sabia e o que representava para ele. Foi o dia que o país se viu livre de um ditador. Um dia que prometeu liberdade ao povo. A revolução dos cravos disse ele. Mas complementou dizendo e questionando a mim, a ele próprio e aos demais.- De que adiantou? Onde está a tal da liberdade?
O contra-argumento daquele pardal me pegou de surpresa. Realmente é para se pensar. Onde está?
Pensei em dizer que ela está aprisionada na própria ignomínia do povo, que se encanta com as luzes e as cores do consumismo. Que pensa no agora e não no futuro. Que luta mais por cores de clubes, por bilhetes de concertos, por férias de veraneio e por quem tem a viatura mais potente, que por um Passaral mais justo, mais aconchegante para nossos filhos. Que a liberdade está presa nos cofres dos bancos, junto aos títulos dos endividados. Está lacrada nas urnas eleitorais onde uma minoria deposita o voto. Que está no marasmo de um povo que se conforma com o fado.
Mas para que dizer isto? Eles não entenderiam mesmo.- Uma imperial se faz favor. foi tudo o que eu