Semântica das cares
A capacidade de enxergar em cores constitui uma das tantas características genéticas que privilegia o ser humano em relação a outras espécies animais. Em milhares de anos de evolução, as cores tiveram um papel fundamental tanto para o estabelecimento do homem no mundo em que habita como também para a dominação deste mundo. Ao longo da história, a visão em cores facilitou o desenvolvimento de tarefas básicas, como selecionar os melhores alimentos para consumo e identificar possíveis presas e predadores na natureza. Porém, o fato de interagir com o fenômeno cromático desde as épocas mais remotas da sua evolução levou o homem a estabelecer, também, outros tipos de relações com as cores, perpassando o âmbito do mero instinto de sobrevivência e se estendendo ao âmbito científico e artístico, por exemplo. Desse modo, acreditamos ser impossível para o homem contemporâneo se imaginar vivendo em um mundo em preto e branco, corroborando, assim com Zavaglia (2006, p. 26), ao postular que “o homem, no seu dia-a-dia, não vive mais sem as cores (se é que algum dia viveu)”. Pensemos, por exemplo, no papel das cores na sinalização de trânsito, na caracterização de times esportivos, na elucidação de visões políticas em bandeiras e símbolos partidários e em tantas outras esferas da realidade.
Essa relação estrita estabelecida com o fenômeno cromático impulsionou o seu estudo sob os mais diversos enfoques. Na literatura sobre cores, podemos encontrar averiguações de diversas áreas do saber, a exemplo de Newton (1979), Goethe (1993), Wittgenstein (1977),
Pastoureau (1997) e Guimarães (2000), o que faz do fenômeno cromático um objeto de estudo de natureza interdisciplinar.
A categorização das cores
Nos estudos sobre categorização, o debate em torno das diferenças e semelhanças em relação ao modo como as línguas recortam e nomeiam o espectro cromático tem sido muito alimentado pela comunidade científica (cf. Berlin; Kay, 1999;