Sem Objeto De Estudo
“Porém a antropologia, como disciplina autônoma, já com alguma anterioridade preocupava-se com a ideia de uma eventual crise que, segundo alguns membros da comunidade de antropólogos, avizinhava-se diante do previsível desaparecimento de seu objeto de estudo. Seria legítima essa preocupação, ou sequer cabia leva-la a sério? Claude Lévi-Strauss soube leva-la a sério para, então, exorcizá-la. Todos se lembram bem de seu artigo, publicado originalmente no Courrier de L’Unesco, em novembro de 1961 e traduzido logo no ano seguinte para a Revista de Antropologia (volume X, números 1-2, 1962), sob o título de ‘A crise Moderna da Antropologia’. Nesse curto, mas interessante artigo, Lévi-Strauss procura mostrar que em nenhuma hipótese o crescente processo de depopulação das etnias indígenas do planeta, ou mesmo a incorporação dos corpos ditos primitivos em grandes civilizações – sobretudo à civilização europeia -, podem pôr em risco o futuro da disciplina, uma vez que ela não se define por seu objeto concreto – no caso, as sociedades aborígenes -, mas pelo olhar que deita sobre a questão da diferença. Questão essa sempre presente onde quer que identidades étnicas se defrontem. Lévi-Strauss conclui seu artigo dizendo que:
‘Enquanto as maneiras de ser ou de agir de certos homens forem problemas para outros homens, haverá lugar para uma reflexão sobre essas diferenças, que de forma sempre renovada, continuará a ser o domínio da antropologia. ’”
LÉVI-STRAUSS, Claude. A crise moderna da antropologia. Revista de Antropologia, v.10, n.1-2, 1962. In: OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. O trabalho do antropólogo. Brasília: Paralelo 15; São Paulo: Unesp, 2000. P. 54