sede de sal, porque o corpo gosta tanto de sal
sal
Sede de
Pesquisas em Fisiologia revelam a complexa relação entre o apetite por cloreto de sódio e a necessidade de água; ao mesmo tempo em que precisamos do mineral para equilibrar a pressão sanguínea, sofremos uma compulsão por consumi-lo em excesso
P
ode acontecer com qualquer um. Já aconteceu com cerca de
30% dos brasileiros adultos.
Um belo dia, provavelmente depois dos
50 anos, com azar antes disso, o sujeito deixa o consultório médico com a receita de um anti-hipertensivo e a recomendação expressa de fazer exercícios e diminuir muito o sal de sua comida. Ele é o mais novo membro do clube dos portadores de pressão alta, candidatos preferenciais ao infarto e ao derrame cerebral.
Tomar o remédio será a parte mais fácil. E se conseguir vencer a preguiça e a falta de tempo, o sujeito se dará conta de que a atividade física, nem que seja uma simples caminhada, pode ser prazerosa.
A pior parte vai ser se acostumar à ‘vida sem sal’. E ter de lutar contra instintos primitivos que provavelmente o paciente nunca imaginou que tivesse.
O cloreto de sódio é tão importante para a biologia e a cultura da humanidade que
30 unespciência .:. março de 2011
nossos ancestrais percorreram distâncias absurdas e até travaram guerras por um bom punhado do mineral. “Substância divina”, para o poeta Homero, e um mineral “particularmente caro aos deuses”, segundo o filósofo Platão, seu simbolismo fica evidente no nosso vocabulário. Do latim sale derivaram palavras como salário, saúde e saudável (veja quadro na pág. 33).
A evolução talhou nosso cérebro para gostar de sal, precisamente do sódio.
Fomos programados para buscá-lo. Em especial porque – e essa talvez seja a parte mais surpreendente dessa necessidade fisiológica – o apetite para este nutriente e a sede são irmãos gêmeos siameses.
A epidemia de hipertensão é resultado de uma espécie de emboscada evolutiva em que o ser humano moderno se meteu.
A ironia é