Seca no Nordeste
Renato Duarte*
Introdução
A
região Nordeste ocupa uma área de 1.539.000 km2, correspondente a
18% do território brasileiro, e abriga uma população de 45,5 milhões, equivalentes a 29% do total nacional. A região produz cerca de 16% do
PIB brasileiro e o seu PIB per capita corresponde a 56% do PIB por habitante do
Brasil. O Nordeste apresenta algumas singularidades no cenário geoeconômico brasileiro. Ali vive cerca de metade da população pobre do país. Em termos geográficos a região mostra-se bastante heterogênea, apresentando grande variedade de situações físico-climáticas. Dentre estas destaca-se a zona semiárida, que, além da sua extensão de 882.000 km2 (cerca de 57% do território nordestino), singulariza-se por ser castigada periodicamente por secas. As secas podem ocorrer sob a forma de drástica diminuição ou de concentração espacial e/ou temporal da precipitação pluviométrica anual. Quando ocorre uma grande seca a produção agrícola se perde, a pecuária é debilitada ou dizimada e as reservas de água de superfície se exaurem. Nessas condições, as camadas mais pobres da população rural tornam-se inteiramente vulneráveis ao fenômeno climático. Historicamente, a sobrevivência daqueles contingentes de pessoas tem dependido, seja das políticas oficiais de socorro, seja do recurso à emigração para outras regiões ou para as áreas urbanas do próprio Nordeste.
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Ph.D. em Economia pela University of Glasgow (Escócia); Coordenador da Área de
Desenvolvimento Regional e Urbano e Políticas Públicas da Fundação Joaquim Nabuco.
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Pobreza, desigualdad social y ciudadanía
Seca e Pobreza no Semi-Árido Nordestino
Há muito se reconhece que as secas periódicas que castigam a zona semiárida do Nordeste assumem dimensões de calamidade pública devido à situação de pobreza em que vive a maior parte dos seus habitantes (Brasil.GTDN, 1967:
p. 67; Duque, 1973: p. 33), estimados em 18 milhões