Saude e sociedade
Plain, the individual and culture
Cynthia A. Sarti
Antropóloga, Doutora em Antropologia Social pela USP, Professora do Centro de Estudos em Saúde Coletiva (CESCO) da Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina (UNIFESP/EPM). CESCO, Rua dos Otonis, 592. CEP 04025-001 São Paulo – SP. Telefone: (0xx11) 576-4586 ou 572-0609
RESUMO
Na dor, manifesta-se claramente a relação entre o indivíduo e a sociedade. As formas de sentir e de expressar a dor são regidas por códigos culturais e a própria dor, como fato humano, constitui-se a partir dos significados conferidos pela coletividade, que sanciona as formas de manifestação dos sentimentos. Embora singular para quem a sente, a dor se insere num universo de referências simbólicas, configurando um fato cultural.
Palavras-chave: dor, cultura, corpo, significado social.
SUMMARY
In the pain, the relation between the individual and society appears clearly. The way in which pain is felt and expressed is ruled by cultural codes and pain itself is constituted, as a human fact, by the meanings given to it by society, that sanctions the ways to demonstrate feelings. Although pain is a singular experience for the one who feels it, it happens within a symbolic system, making it a cultural fact.
KEY WORDS: pain, culture, body, social meanings.
A dor, como o amor, remete a uma experiência radicalmente subjetiva. Aquele que sente a dor, dela diz, eu é que sei. Frente à dor do outro, há comoção, sofrimento (ou, mesmo, gozo), com maior ou menor distância e intensidade. Embora singular para quem a sente, a dor, como qualquer experiência humana, traz a possibilidade de ser compartilhada em seu significado, que é uma realidade coletiva (embora jamais possamos nos assegurar de que o que atribuímos ao outro, corresponda exatamente ao que ele atribui a si mesmo). Assim, dizemos que entendemos a dor do outro. Não é precisamente esta possibilidade que