Salazar
Organizado por Maria Augusta Babo DA INTERTEXTUALIDADE. A CITAÇÃO
In: http://www.cecl.com.pt/rcl/03/rcl03-08.html
Resumo:
Este texto pretende pensar a citação enquanto prática arcaica de repetição e daí questionar a intertextualidade como perspectivação da escrita e da leitura.
A escrita enquanto trabalho de reescrita, isto é, absorção e transformação de textos, assenta em modalidades várias de transposição de textos anteriores. A citação é uma dessas modalidades, tal como o plagiato, o comentário, a paródia ou o texto poético o são, todas elas marcando relações específicas do sujeito da enunciação com o enunciado e processos de significância intertextual determinados.
1. A escrita como cópia.
«A escrita que estava gravada naquelas tábuas era da mão de Deus, que ali tinha escrito os seus dez mandamentos, e tinha-os escrito duas vezes para marcar a sua importância (…)»
Êxodo, XXXII, 16 Tratar a textualidade a partir de uma abordagem do texto entendido como trama ou tela é não só fundamental como actualmente óbvio. Essa abordagem permite pensar o texto nas relações que ele mantém com os que o precedem, mas ainda como escrita que se revela reescrita ou leitura. A intertextualidade como conceito operacional de análise propicia uma arqueologia do texto que não se identifica com uma história da literatura ou uma crítica das fontes e que aqui importa mencionar.
O texto-escrita releva pois de uma prática específica a perceber numa genealogia do escrito, das «escrituras». Por seu lado, a citação, modalização particular do regime intertextual da escrita, deverá assumir as suas raízes nessa mesma arqueologia a determinar. Para já, o que essa genealogia da escrita permite perceber, se nos reportarmos à sua génese hebraica, é justamente o seu carácter de lei divina. A escrita toma corpo como gravação da palavra de Deus, sendo que essa palavra, portadora do Sentido, da Lei, ao inscrever-se na matéria, as Tábuas da Lei, torna-se