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"Mas a pessoa de quem falarei mal tem corpo para vender, ninguém a quer, ela é virgem e inócua, não faz falta a ninguém. Aliás - descubro eu agora - também não faço a menor falta, e até o que eu escrevo um outro escreveria. Um outro escritor sim, mas teria que ser homem porque escritora mulher pode lacrimejar piegas."
Macabéa, uma moça nordestina, do Alagoas, com apenas 19 anos. Órfã, perdeu seus pais aos 2 anos de idade, vem para a cidade grande, o Rio de Janeiro, para tentar a sorte junto com a sua tia. Era uma virgem, sem namorado, solitária que havia sido criada por essa tia beata extremamente rígida e severa. Uma alienada, que não tem percepção de absolutamente nada à sua volta.
A palavra realidade não lhe dizia nada.
Ela somente vive, inspirando e expirando, inspirando e expirando.
Era feia, com péssimos hábitos de higiene, uma garota a qual ninguém iria olhar e se interessar;
É como se fosse cruzar a rua e sorrir abobadamente para todos que passassem por ela, mas não recebe um sorriso como resposta. Eles nem olham para ela, notam a sua presença. Era uma garota feia, nada atrativa.
É como se olhasse no espelho e não enxergasse nada à sua frente, não existisse um reflexo da sua própria imagem. Era vazia, oca por dentro. A velha questão a ser indagada “Quem sou eu?”
Se tivesse a tolice de se perguntar “quem sou eu” cairia estatelada no chão
Só uma vez se fez uma trágica pergunta: quem sou eu. Assustou-se tanto que parou completamente de pensar.
Essa moça não sabia que ela era o que era, assim como um cachorro não sabe que é cachorro. Daí não se sentir infeliz. A única coisa que queria era viver.