Rousseau
Rousseau e o Discurso sobre as ciências e as artes: o ato de fundação de uma moral anti-iluminista
2.1.
Crítica à hipocrisia iluminista
A base natural a partir da qual Rousseau faz derivar sua crítica à entrada do homem na história encontra-se formulada em seu Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. Nele o genebrino traça uma história filosófica a partir da qual
considera a moralidade natural – representada pelos
sentimentos de amor de si e piedade – como uma ferramenta de crítica à trajetória percorrida pelo homem primitivo até o encontro histórico com seus semelhantes.
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Contudo, ainda que esta base sirva como guia para qualquer discussão que se trave acerca de grande parte das obras de Jean-Jacques Rousseau, interessa-nos aqui seu
Discurso sobre as ciências e as artes e o alicerce histórico e social do qual ele se serve como ponto de partida para o embate que travará contra a inserção do homem na sociedade propriamente dita. E não é qualquer sociedade que será combatida, mas aquela já plenamente constituída e repleta de infortúnios advindos da desigualdade descrita por ele de maneira peculiar no segundo Discurso. Se neste texto sua forma de combate teve como alvo a história e toda a degeneração que ela provocou no comportamento do ser natural, veremos que é em seu primeiro Discurso o lugar onde ele arma o cenário ideal de questionamento e de crítica aos homens de sua própria realidade em sua forma mais degenerada.
A primeira formulação crítica de Rousseau à sua sociedade tal qual ela está construída, e principalmente ao Iluminismo nela presente, está posta na primeira parte de seu Discurso sobre as ciências e as artes1. Nele, logo de início, o genebrino elabora
1
A forma como este Discurso foi elaborado é julgada pelo próprio Rousseau com uma certa indiferença.
Segundo ele, seu texto foi escrito de forma medíocre e mal argumentada. Também