Roteiro peça Dom Casmurro
Cumprimentou-me e sentou-se ao meu lado. Começou a falar da Lua e dos ministros, e logo depois tirou alguns versos do bolso, recitando-os. Apesar de a viagem ser curta e dos versos não serem de todos maus, eu estava cansado. Acabei fechando os olhos três ou quatro vezes.
(Nota: Ao mesmo tempo em que Bento narra isso, o rapaz do trem está falando bem alto, com as mãos para cima, algum tal soneto que escolherei depois.)
Isso bastou para que ele metesse de volta seus versos no bolso.
Bentinho: - Continue.
Rapaz: - Já acabei.
Bentinho: - São muito bonitos.
Bento: - Ele estava amuado, de cara amarrada. Fiz um gesto para que ele retirasse os versos do bolso e continuasse, mas não passou disto. No dia seguinte, ele saiu por aí a dizer de mim coisas feias, e acabou apelidando-me Dom Casmurro. Alguns vizinhos, que não gostam dos meus hábitos reclusos e tímidos, deram continuidade à brincadeira, que acabou pegando.
Nem por isso me zanguei! Falei até para os meus amigos, que acharam graça e agora me chamam assim, até mesmo em bilhetes. E nem procures no dicionário. Não acharás significado para tal palavra. Casmurro não está aqui no seu sentido literal. Mas sim naquele em que o gosto popular usa. Dom, veio para me dar ares de grandeza. (Nesta última frase, deve ser falada com um ar de quem acha graça da situação).
Tudo por estar cochilando! Também, não achei melhor título para a minha narração. Se não tiver outro daqui até o fim do livro, vai este mesmo.
Agora, vai lhe os motivos por estar contando esta história. Moro só, mais um criado. A casa em que moro é própria, a mandei construir do mesmo jeitinho em que me lembrava da minha casa de infância, na antiga Rua de Matacavalos.
O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois não consegui recompor o que