Revolução francesa
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Revolução e Independências: Notas sobre o Conceito e os Processos Revolucionários na América Espanhola
Maria de Fátima Silva Gouvêa
Os movimentos de independência hispano-americanos nunca haviam sido plenamente associados à idéia de revolução até muito recentemente, apesar de O termo aparecer com grande freqüência na historiografia tradicional sobre as independências no continente. No conjunto das Américas, a problemática da revolução no contexto das independências sempre pareceu reservada ao caso clássico da "Revolução Americana" - a das Treze Colônias, em fins do século XVIII e ao caso-limite do Haiti, no qual a articulação entre revolução, inde pendência e abolição imprimiu características sobremodo radicais ao processo. No caso hispano-americano, no entanto, "revolução" quase sempre não foi mais do que uma palavra, indicando antes uma ausência e levando a uma história contada pela ótica do continuísmo e do conservadorismo. Foi apenas nos últimos anos que, sob a influência de estudos mais recentes sobre o Antigo Regime e mais particularmente sobre a Revolução Francesa, novos rumos foram percebidos nesse processo, favorecendo a elaboração de uma história mais dinâmica da desagregação do mundo colonial hispano-americano. E objetivo deste artigo a realização de um balanço bibliográfico que avalie os principais marcos dessa
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estudos históricos
e
1997 - 20
reflexão, assim como a possibilidade de generalização dessa nova abordagem a um número mais amplo de movimentos no continente. 1. A revolllção na sombra: entre o continllísmo colonial e o liberalismo atlântico Assunto muito raramente considerado por historiadores brasileiros, exceto poucas e honrosas exceções (Prado, 1985), as independências latino-ameri canas constiruíram até muito recentemente um território marcado pela presença de uma historiografia bastante convencional e pouquíssimo explicativa. Em termos gerais se pode dizer que desde fins do século XIX foi sendo