Revolução americana
Na história muitas são as ações que terminam por transcender a vontade imediata daquele que a desencadeia. Pretendendo eliminar num ato de vingança o inimigo, um homem ateia fogo a um rastilho para lhe destruir a casa. As labaredas do incêndio terminam por fugir-lhe do controle e toda a região, inclusive sua residência, é devorada pelas chamas. Há pois um plus além da finalidade pretendida, uma substância da ação que, excedendo-se, volta-se contra o próprio autor. Este exemplo, dado por Hegel, serve perfeitamente para determinar o papel histórico do general Thomas Gage — comandante da guarnição militar de Boston às vésperas da Revolução.
Tomando ciência de que os colonos americanos haviam armazenado armas e munições num pequeno vilarejo nas cercanias de Boston, ordenou uma operação de busca e captura. Como este obscuro militar poderia saber que os tiros dados pelos colonos, tentando travar a marcha da coluna inglesa, terminariam por ecoar pelo mundo, ensurdecendo o despotismo e desencadeando a primeira revolução das Americas contra o colonialismo europeu? Revolução iniciadora de um ciclo de rebeldias e insurgências que — nas Américas — somente se encerraria cinqüenta anos depois, quando nos altiplanos peruanos, em 1824, os espanhóis foram definitivamente batidos em Ayacucho pelos chefes “criollos” sul-americanos.
De Concord a Bunker Hill
A milícia americana enfrenta um império
O porto de Boston, no decorrer do século XVIII, nada indicava ser um ninho revolucionário. Seu acolhedor ancoradouro,