Revolução acreana: um elogio ao capital
“Capital é uma forma especifica de relação social, na qual os burgueses empregam o trabalho dos despossuídos dos meios de produção para produzir mais-valia... é a contínua expansão do valor através do processo de produção e circulação de mercadorias” (Paul Singer).
A historiografia oficial da Revolução Acreana afirma que a origem dessa guerra está no sentimento antiimperialista de Plácido de Castro e no patriotismo dos seringueiros. Ao contrário desse raciocínio que forja um passado heróico, expondo em primeiro plano o idealismo dos combatentes, queremos, numa perspectiva mais econômica, ressaltar a latente cobiça dos “coronéis de barranco” no desenrolar dos fatos. A “guerra do Acre” fez parte de uma conjuntura internacional em que a busca pelo lucro foi levada ao extremo através da política imperialista dos países “centrais”. A conquista territorial e o domínio econômico sobre outras nações eram vitais para a sobrevivência das indústrias modernas. Por meio do controle das fontes de matérias-primas, pretendia-se vencer a “encarniçada” concorrência. No final do século XIX, o Acre torna-se um dos principais alvos do capital, por ter a maior fonte de látex, elemento essencial à indústria pneumática. O capital chega ao Acre em seu modelo selvagem e constrói toda a engrenagem do sistema de aviamento. Em busca de inversão lucrativa rompe as “veias acreanas” e, indiferente às danosas conseqüências sociais, suga o máximo de seu látex. Para obter o excedente, o capital torna-se indiferente à ética – invade as terras bolivianas, destrói a floresta, extermina os índios, submete as pessoas à semi-escravidão, encobre a corrupção, apóia a sonegação fiscal, promove conflitos, produz o subdesenvolvimento e até patrocina historiografias capazes de justificar suas ações. Mas não se pode esquecer que, em âmbito local, havia quem se enriquecia com tudo isso: os seringalistas e os governadores do Amazonas e do Pará.