Resumo
Carlinhos, o narrador personagem, recorda o tempo em que era criança e a mãe o obrigava a ir cortar o cabelo à barbearia do Mestre Ilídio Finezas, que tanto o amedrontava com a sua figura alta e esguia e com os seus braços longos e arqueados que lhe faziam lembrar uma aranha. Mas, para além do medo que sentia pelo mestre barbeiro, Carlinhos, no tempo da sua infância, sentia por ele uma enorme admiração. Esta resultava da sua brilhante condição de ator amador e da arte com que tocava violino. A sensibilidade artística de Mestre Finezas encontrava eco na personalidade de Carlinhos, enquanto criança em desenvolvimento. Anos depois, Carlinhos regressa à vila, após o fracasso de um curso não concluído. De vez em quando ia até à barbearia de Mestre Ilídio Finezas, tornando-se o seu único confidente. O tempo passara, Mestre Finezas envelhecera e enquanto cortava o cabelo ou fazia a barba ao Carlinhos, homem adulto, evocava os seus momentos de fama e entristecia-se com o esquecimento e abandono a que fora votado por todos, pela própria família e pela vila que o trocara pela evolução e pelo progresso das modernas barbearias. Entre os dois desponta uma enorme cumplicidade, uma vez que ambos se sentem falhados na concretização dos seus sonhos, Carlinhos falhara um curso e levava uma vida de ociosidade e de marasmo que não o preenchia. Mestre Finezas, por sua vez, não concretizara o seu grande sonho de partir mundo fora e ser reconhecido como um grande ator de teatro. Para além da frustração dos sonhos não realizados, unia-os o mesmo amor pela arte. É por isso que Carlinhos se disponibilizava sempre para ouvir Mestre Ilídio Finezas tocar uma música lenta e melancólica no seu violino, na qual transmitia toda a sua dor e desolação.