resumo o abolicionismo: proposta de supressão imediata da desigualdade escrava
1Durante o período escravocrata no Brasil, para além do confronto entre as posições escravista e anti-escravista, é notório que se delinearam modos distintos de avaliar o problema de uma possível abolição da escravatura, por parte daqueles que a desejavam. Deveria a escravatura ser abolida gradualmente, de modo a não colapsar uma economia e uma sociedade francamente apoiadas na exploração do trabalho escravo? Deveria a abolição ocorrer de uma só vez, definitivamente? E, se fosse esta a opção, deveria estar prevista algum tipo de indenização aos antigos senhores de escravos que subitamente perderiam um patrimônio (a escravaria) que implicava na sua própria riqueza? Mais ainda, deveriam ser asseguradas aos libertos a possibilidade de realizar sua cidadania plena em um mundo que os receberia em desigualdade de condições? A Abolição da Escravidão deveria vir acompanhada de uma correspondente Reforma Agrária e outras medidas – como uma reforma educacional – de modo a oferecer efetivamente aos antigos escravos uma possibilidade real de sobreviver no mundo do trabalho livre?
2Todas estas perguntas, já mesmo ao serem formuladas, revelam uma certa diversidade de posições no mundo das idéias anti-escravistas que foi coetâneo ao contexto das décadas que precederam a abolição da escravatura no Brasil. Esta luta de representações em torno das possibilidades de trânsito para um mundo sem escravidão – expressa através de um confronto pleno de tensões realizadas ao nível discursivo – constituiu na história das idéias abolicionistas o contraponto de uma intensa luta social e política que não deixou de ter seus lances violentos, ao lado dos lances parlamentaristas. O nosso objetivo será examinar este debate, confrontando algumas das várias posições possíveis.
3Para compreendermos mais claramente as idéias que estavam em jogo em umas e outras destas posições, partiremos da proposição de que existiam duas maneiras de