O positivismo no Brasil

6703 palavras 27 páginas
O positivismo no Brasil:
Uma ideologia de longa duração Alfredo Bosi
Há, pelo menos, três gerações o termo positivismo vem conhecendo baixa cotação entre os estudiosos de ciências humanas.
Antropólogos, historiadores, críticos literários e pensadores das mais variadas tendências têm visto nos métodos positivistas de fazer ciência uma regressão aos determinismos do século XIX. O alvo comum a ser combatido seria o seu vezo factualista – “contra fatos não há argumentos” [...]; vezo que ignoraria o drama das relações intersubjetivas e, em escala maior, o movimento contraditório da História ao qual, desde Hegel e Marx, se dá o nome de dialética.
O positivismo seria a hegemonia da coisa espacializada, mensurável, impenetrável, portanto opaca e inerte. Banido das interpretações macro-históricas pela sociologia da cultura e pelo marxismo aberto de Benjamin e Adorno; expulso da crítica literária pelo intuicionismo de Croce e da estilística espanhola ou, mais recentemente, pela semiologia prazerosa do texto de Barthes; rejeitado, desde Bergson, por filósofos prestigiosos do século XX, Heidegger, Jaspers, Sartre e
Foucault, o discurso “positivo” acantonou-se e afinou-se no empirismo lógico que dá prioridade ao único “fato” ubíquo e incontestável, a linguagem, a qual, por sua vez, fala de fatos como o signo fala de coisas e de suas relações. Foi o que restou de uma doutrina tão segura de si que pretendia enfeixar no seu sólido Sistema todas as realidades inorgânicas, orgânicas e superorgânicas
(sociais), na esteira do mestre Auguste Comte. A sua enciclopédia das ciências culminava com a mais complexa de todas, a Sociologia, que ele próprio criara e batizara com nome híbrido de latim e grego.
Voltando-se para a História do gênero humano, Comte postulava a lei dos três estados. A humanidade passara pelas etapas teológica (primeiro fetichista, depois politeísta, enfim monoteísta), metafísica e, finalmente, positiva. A última fora propiciada pelas

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