Resumo - a máquina do poema
NUNES, Benedito. A máquina do poema. In: _____. O dorso do tigre. São Paulo: Ed. 34, 2009. p. 257-267. Duas correntes da expressão poética são sintetizadas em A educação pela pedra, uma voltada sobretudo para a realidade social e humana e outra para a captação do fenômeno poético em toda a sua amplitude. Nessa junção, forma e matéria, estrutura e temática se produzem reciprocamente.
A máquina do poema gera informações entrelaçadas acerca das coisas e dos homens, em tom impessoal e recorrente. O rigor da expressão, o esquematismo do conjunto, a impressionante lógica da sintaxe, são sustentados pela atitude objetivista do poeta, que reflete, calcula, explica e conclui. De seus versos decorrem alguns efeitos responsáveis pelas gradações de humor, ora sarcástico, ora grotesco.
No processo de composição, as palavras dispostas em díadas ou triadas já são figuras temáticas, verdadeiros nódulos que orientam e controlam a produção de imagens: mar-canavial, mulher-Beberibe, Recife-memória, etc. As imagens que quase sempre têm referentes concretos divergem ou convergem entre si. As convergências ligam o que está separado; as divergências separam o que a princípio foi unido. Exemplo: A Educação pela pedra. Objeto concreto pedra – lição de impessoalidade, frieza intelectual e resistência moral converte-se na secura humana do sertão, que nada ensina a ninguém.
Um dos traços mais característicos da poesia de Cabral é a análise progressiva, feita das negações e substituições, dos elementos de símiles ou metáforas. Existência de relações analógicas, próprias da natureza da metáfora.
Na técnica de substituições, os termos transformam-se por substituições encadeadas. Com isso, ocorre o alastramento de imagens claras, que tendem à máxima objectualidade. Já o uso das enumerações acarreta o teor explicativo ou indicativo, rigor, clareza. Ocorrem ainda permutações em série, de palavras ou versos. Esse processo interfere na estrutura do