resumo engels
O jovem alemão Friedrich Engels estava com a vida feita. Rico, bem-nascido numa das mais prósperas famílias de Bremen, cultíssimo – já na adolescência escrevera vários poemas e aprendera idiomas estrangeiros- e de boa aparência, foi designado pelo pai para cuidar dos negócios da família em Manchester, na Inglaterra. Não era um cargo qualquer: Manchester era nada menos do que a “oficina do mundo”, a cidade das chaminés e das máquinas que abastecia o mundo industrializado com tudo o que ele necessitava. Abrir um escritório naquela cidade representava, na época, mais do que hoje abrir um em Nova York, Los Angeles ou Chicago. Era, para ser mais direto, o tipo de emprego que qualquer pai zeloso gostaria de dar para o filhão. E para lá se foi o jovem Engels, armado com algumas garrafas de vinho do Porto, várias cartas das namoradas, seus melhores ternos e, é claro, livros – muitos livros: de Hegel, Feuerbach, Bruno Bauer e Max Stirner e todos os grandes nomes da maior glória que sua pátria fragmentada e instável podia ostentar naqueles tempos: a filosofia alemã.
E o século XIX, época da Revolução Industrial, do progresso técnico sem limites, do aumento desmedido de riquezas, oferecia uma oportunidade ímpar para um jovem como ele tomar parte do comboio da História. Engels e seus amigos – entre os quais contava um judeu irritadiço chamado Karl Marx – logo perceberam que o progresso gerava uma imensa massa de despossuídos como nunca a humanidade havia visto . Descobrir qual o papel dessa massa dentro da História tornou-se logo uma das principais preocupações de jovens como ele. Assim sendo, ir a Manchester, o coração do capitalismo do século XIX, tinha um sentido todo especial para ele – tanto quanto para seu pai. Só que o velho não desconfiava que o garotão Friedrich, por trás dos belos ternos, do sorriso fácil e encantador, dos bons modos degentleman e do ar um tanto dândi, escondia dentro de si um socialista revolucionário.