resenha
Marcos Vinicius da Silva Ribeiro
RESENHA
Historiador fez bacharelado na USP (1976), doutorado na mesma universidade (1982) e pós-doutorado com Jacques Le Goff na École des Hautes Études en Sciences Sociales (1993). Especialista em Idade Média ocidental, seus interesses estão voltados particularmente para a cultura, a sensibilidade coletiva e a mitologia daquele período, bem como para as reflexões teóricas que fundamentam tais pesquisas. Dedica-se também à História Social do Futebol.
“O conceito de tempo da Epístola de preste João”, o autor concentra-se num elemento central que lhe parece descurado no estudo das utopias, qual seja, a concepção de tempo que manifestam. Apesar de ser, no sentido etimológico, uma categoria espacial, a utopia, como anseio do fim da história, não é capaz de operar alheia a parâmetros temporais, mesmo se estes são usados para marcar justamente a condição intemporal da sociedade utópica. É o caso da Epistola Presbiteri Johannis, elaborada em meados do século XII, em ambiente imperial, sob Frederico I, em meio a um contexto fortemente escatológico. A Epistola expressa a concepção espiralada de tempo tipicamente medieval, com suas sobreposições de ritmos diferenciados. Para o autor, a Epistola descreve um tempo presente prolongado visando uma resposta à necessidade política e psicológica da época que via na sobrevivência do Império Romano, o retardamento da vinda do Anticristo. Não foi fruto do acaso, portanto, que a história de preste João tenha sido contada pela primeira vez no fim de uma crônica universal, que cobriu um longuíssimo período de tempo que vai de Adão até o rei-sacerdote oriental e que, de maneira significativa, insiste na continuidade do Império Romano, vista como expressão da providência divina, desde a Antiguidade até o presente do autor. Tudo sugere que, no contexto medieval de forte e latente escatologia, a