Resenha

“Você devia tentar” disse Rogério, antes de continuar pedalando naquela manhã fria de julho. Rapidamente subi o vidro do carro e voltei para o aconchego do ar quente enquanto me despedia. Já era a terceira vez que eu cruzava por ele enquanto ia ao trabalho; ele já havia cumprido seu turno de oito horas noturna como analista de suporte de dados e, sem dormir ainda, corria cinco quilômetros com aquele frio. Nada mal para alguém que, até seis meses atrás, fazia apenas a caminhada da poltrona para a geladeira, pesava 150 quilos (1,70 de altura) e que nunca havia pedalado na vida.
Já não nos víamos com tanta freqüência; ele havia trocado o nosso habitual happy hour regado a chope e bolinho de bacalhau por três horas de academia antes do trabalho. Também trocou os furos de seu cinto: voltou aos originais. Não bastasse, diminuiu o número das calças (ele que já estava cogitando usar suspensórios?). Mas a troca mais incrível foi a dos cigarros por palitos de dente.
Aliás, disse ele pouco tempo depois, tudo começou por causa do cigarro. Nos encontramos por acaso no supermercado, eu enquanto voltava dos enlatados de embutidos, ele na direção dos dietéticos. Quase não o reconheci de costas, aquele homem saudável, não aparentando em nada o homem sedentário que eu conhecia há quinze anos.
O cartão que tinha me dado aquele dia no supermercado, deixei cair da minha carteira no momento em que a minha vida profissional não estava como esperava, além de a pessoal já não ir bem há muito tempo. Estava num bar e percebi que o número 237 ficava a dois quarteirões, logo decidi ir lá ver... Fiquei impressionado como o prédio. Não demorei muito para ser atendido e logo ser questionado pelo Sr Donati se parar de fumar era realmente o meu objetivo, se realmente gostaria de assinar aquele contrato ali em minha frente, numa sala branca apenas com duas cadeiras uma de frente para a outra e uma mesa. Sem delongas li rapidamente o contrato e assinei.
Após isto Sr Donati fez algumas perguntas