Resenha

A solidão contra a “miséria psicológica da massa”

Essa reflexão foi inspirada em falas recorrentes da nossa clínica que traziam a temática do isolamento e do sentimento de solidão. A partir da análise dessas falas concluímos que é necessário cuidarmos de análises apressadas e patologizantes em relação às pessoas solitárias, a fim de podermos verdadeiramente escutá-las. Acreditamos que a Psicanálise, por realizar importantes articulações entre o laço social e as manifestações sintomáticas, envolve uma concepção de sujeito fundamental para contribuir com as reflexões acerca da solidão, uma vez que esse sentimento, de certo modo é a encarnação mais imediata do conflito fundante do sujeito em seu campo social.
Dessa forma, ao invés de considerarmos o discurso sobre a solidão como uma manifestação patológica de subjetividades mal adaptadas ao corpo social, ou como uma produção de um campo social contemporâneo que segrega, podemos escutá-lo como um apelo do sujeito contra o que Freud chamou de “miséria psicológica da massa” (Freud, 1930). Os sujeitos solitários encarnam um conflito que de certa forma aponta para uma crítica à sociedade homogeneizada, que valoriza a auto-suficiência, a autonomia e a independência. A solidão representa a presença da ausência do outro, a falta e, portanto, a posição de um sujeito desejante. E nesse sentido, ao se sentirem sós esses sujeitos instituem um questionamento à promessa de felicidade ofertada por tantos discursos contemporâneos.
Confrontando a ética psicanalítica com a solidão de nossos pacientes, nos interrogamos: como se inserir em um campo social mantendo-se separado, com uma margem de liberdade do discurso dominante, mas não segregado?