Resenha o homem cordial
O Estado não é uma ampliação do círculo familiar e, ainda menos, uma integração de certos agrupamentos, de certas vOntades particularistas, de que a família é o melhor exemplo. Não existe, entre o círculo familiar e o Estado, uma gradação, mas antes uma descontinuidade e até uma oposição. A; indistinção fundamental entre as duas formas é prejuízo românticc que teve os seus adeptos nrais entusiastas durante o século XtX. De acordo com esses doutrinadores, o Estado e as suas instituições descenderiam em linha reta, e por simples evolução, da família. A verdade, bem outra, é que pertencem a ordens diferentes em essência. Só pela transgressão da ordem doméstica e familiar e que nasce o Eitado e que o simples indivíduo se faz cidadão, contribuinte, eleitor, elegível, recrutável e responsável, ante as leis da Cidade. Há nesse fato um triunfo do geral sobre o particularn do intelectual sobre o n'raterial, do abstrato sobre o corpóreo e não uma depuração sucessiva, uma espiritualização de formas mais naturais e rudimentares, unna procissão das hipÓstases, para falar como na filosofia alexandrina, A ordem familiar, em sua forma pura, é abolida por uma transcendência. Ninguém exprimiu com mais intensidade a oposição e mesmo a incompatibilidade fundamental enlre os dois princípios do que Sófocles. Creonte encarna a noção abstrata, impessoal da Cidade em luta contra essa realidade concreta e tangível que é a família. Antígona, sepultando Polinice contra as ordenações do Estado, atrai sobre si a cólera do irmão, gu€ não age em nome de sua vontade pes-
o Antígoha e Creonte . Pedogogia moderna e as vírtudes aúifamilíares . Patrimonialismo . O "hgrnem cordial" como se e Avers4g aos ritualismos: - ';';;iÈota social' na ela na vida Itnguagem, nos negócios dos valores o ' A relig'ião e '*oítoção cordiais ,
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DAS LETRAS
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soal, mas da suposta vontade