Resenha - O Coração das Trevas
Partindo da relação entre colonizador/colonizado do século XIX, especificamente no Congo belga africano, essa pequena resenha tem como objetivo apresentar uma análise sobre os temas discorridos pelo autor Joseph Conrad, O coração das trevas, em diálogo, também, mas não exclusivamente, com a obra de Edward Said, Cultura e Imperialismo, com foco na interpretação literária de Conrad e na análise que Said faz em volta do processo colonialista.
Se concordarmos com o ponto de vista de Said no seu livro, de que o Oriente é uma construção do Ocidente, criando-se a partir desse, e confiarmos no relato de Conrad, podemos dizer que o ato de colonizar o outro é uma brutalidade, essa, ao longo dos tempos, e inclusive no século XIX, sempre disfarçada sob um véu missionário com o pretexto de tornar civilizados os selvagens, contudo operando de forma tão desumana ao ponto de colocar europeus/colonizadores no mesmo nível de brutalidade dos africanos/colonizados.
Porém essa ideia só pode ser defendida ao longo do desenvolvimento da narrativa de Marlow, pois em seu inicio ele inclusive faz uma comparação entre “o mundo civilizado” e “o mundo das selvas”, mas ainda com os olhos de um branco europeu. “Pensava eu nos tempos remotos em que os Romanos chagaram aqui pela primeira vez, há cerca de mil e novecentos anos [...] Imaginem esse comandante aqui – num verdadeiro fim de mundo[...]” (Conrad, 2004, p.8)
Essa citação em conjunto com um trecho do documentário O Coração das Trevas (Joseph Conrad) fazendo referência ao livro “Subir aquele rio era como fazer uma viagem aos primórdios do mundo” nos mostra que no inicio Marlow, alter ego de Conrad, é um homem de seu tempo, que consegue ver semelhanças entre ele mesmo e o outro selvagem, mas essas semelhanças não passam de um ponto histórico até então. Como ressalta essa citação “Nenhum poeta, nenhum artista de qualquer arte, tem seu pleno significado sozinho” (Said, 2011, p.35), isso nos mostra a,